Resumo
Apresento
Estava em meu preguiçoso balançar em uma cadeira de vime,
quando pelo Whatsapp recebo mensagem de José Bezerra Marinho, meu
vetusto amigo do Marista, da geração que testemunhou os primeiros
acordes dos Beatles e dos Rolling Stones, e presenciou os festivais
de música no Palácio dos Esportes de Natal. “Não entendo quase nada,
mas estou fascinado”, foi o que disse e o que me fez levantar da
cadeira, e sequer me prometeu uma imitação do Irmão Francisco caso
lhe respondesse a contento. Ingrato meu amigo, mas a provecta amizade
tudo justifica e tudo perdoa.
A instigante mensagem surgira da leitura de um artigo no portal Inovação
Tecnológica, intitulado “Universo simulado em um átomo mostra matéria
emergindo do espaço vazio”
Universo em um átomo? Isso me lembra Stephen Hawking, e de modo algum me
surpreende a frase de Marinho. São incontáveis os textos de divulgação científica,
que por natureza destinam-se ao grande público, mas que por construção só atingem
os iniciados no assunto.
Na ilha privativa dos iniciados, Celia Viermann e seus colaboradores alemães e
espanhóis relataram seus recentes estudos na prestigiosa revista Nature, em artigo
publicado no último dia 9 de novembro. Na ilha dos iniciados, Simulador de campo
quântico para dinâmica no espaço-tempo curvo, é um tema proibitivo para quem não
consegue navegar no turbulento mar da relatividade geral.
O grande resultado do trabalho tem a ver com o surgimento da matéria a partir
do vácuo. Que coisa estranha! Como é que do nada sai alguma coisa? Bem, é porque
a coisa não é assim como imaginamos. Em primeiro lugar, esse vácuo não é exatamente
um vazio como nós, os incrédulos da teoria quântica imaginamos. No estudo em pauta,
e em todos os estudos das partículas elementares, trata-se do famoso vácuo quântico,
descoberto na gloriosa década dessa teoria, que se iniciou em 1925. Nesse vácuo
quântico a energia é negativa, algo inadmissível para quem trabalha com uma cabeça
newtoniana, mas é desse misterioso espaço que saem os pares de partículas e
antipartículas, matéria e antimatéria.
Partículas sendo geradas no vácuo quântico é o que acontece a todo momento no
universo. É assim que a vida dá o ar da sua graça, desde o Big Bang.
Agora, o que ninguém ainda tinha visto é que isso pode acontecer num único átomo.
Daí a expressão que nos deixa boquiabertos: Um universo em um átomo. Mas, calma aí,
na verdade Celia Viermann e seus colegas não dizem que observaram isso acontecendo
com um átomo. Eles observaram comportamentos similares aos que são observados no
universo, em uma amostra de 23 mil átomos de potássio. Não é uma amostra qualquer.
Trata-se de um condensado de Bose-Einstein, que em baixíssima temperatura, muito
próxima do zero absoluto, funciona como se fosse um átomo, e não um simples
aglomerado de milhares de átomos.
O extraordinário resultado obtido por Celia Viermann e seus colegas não vai
mudar nossa concepção do universo, neste momento, mas o Simulador de campo quântico
concebido pelos pesquisadores tem grande potencial para permitir estudos
cosmológicos controlados, que poderão alterar o modelo atual do universo.
|
|